A Loja
Se há lojas centenárias entre as Lojas com História, muitas, depois há ainda uma escassa dezena que se pode orgulhar por ter o título raro de bicentenária. Dois séculos e três décadas que nos levam atrás até ao século dezoito: 1784. Isto faz do Tavares, também conhecido como “Tavares Rico”, o restaurante mais antigo do país ainda em funcionamento. É fácil de perceber que mais de dois séculos de história no coração do Chiado não se resumem num par de parágrafos. Dito isto, alguns momentos essenciais serão conhecer os fundadores, os irmãos Tavares. Em “Serões”, de 1909, são descritos por João Pinto de Carvalho (também conhecido por Tinop) como excêntricos «do mais fino quilate», que vestiam jaqueta e sapatos de ourelo e atendiam a clientela falando em verso. De facto, é uma pena que esta prática comercial não tenha pegado!
Outras formas de inovação no serviço, no entanto, sobreviveram: o restaurante Tavares foi dos primeiros restaurantes a servir refeições à carta. Foi também pioneiro na importação de iguarias estrangeiras (foie gras, por exemplo). É curioso: num momento da sua história deu a provar sabores estrangeiros aos portugueses e hoje, sobretudo, dá a provar os melhores sabores portugueses a estrangeiros.
Nem sempre teve a reputação nem se destacou pelo requinte a que o associamos hoje. Nos seus primórdios de botequim, ainda se chamava “Talão”, e era um lugar convivial, descrito como sendo algo “tristonho”, iluminado a azeite de peixe, numa Lisboa onde despertava a cultura da tertúlia de café. É no século XIX, já com a família Caldeira à frente do negócio, que se dão profundas alterações no espaço, e desponta o luxo pelo qual o conhecemos: os lustres, a talha, a pintura em folha de ouro, os generosos espelhos.
Cada uma das mesas no Salão Nobre é uma homenagem a um cliente ilustre da casa, alguém que nalgum momento desfrutou de uma refeição naquela mesa. Conta-se entre os homenageados Camilo Castelo Branco, Calouste Gulbenkian, Mariza, o rei Abdullah II, Jean Paul Gaultier, Hemingway ou Madonna, entre outros; e estas mesas podem reservar-se antecipadamente na página de internet do restaurante.
Há um outro Salão no piso superior, menos conhecido, que é todo ele uma homenagem a Eça de Queirós. A história do escritor atravessa a do restaurante sobretudo através do grupo “Vencidos da Vida”, um grupo de intelectuais que ali se reunia entre 1887 e 1894. A descrição que Eça de Queirós faz do grupo diz muito acerca da importância que teve o Tavares, para eles: chama-lhe um “grupo jantante”.
Hoje, é um restaurante reconhecido internacionalmente, e reconhecidamente elitista. Essa é no entanto uma ideia aberta a ser desafiada. Se é certo que uma grande parte dos portugueses não se poderão permitir uma ida ao Tavares com frequência, este pode ser o restaurante onde destacar uma noite especial, um momento único. “Um dia não são dias” diz o saber popular, e um jantar não são jantares, acrescentamos nós.
Produtos
& Serviços
Restaurante