A Loja
O cliente que fecha a porta atrás de si ao entrar, deixa lá fora o bulício de uma das ruas mais movimentadas da Baixa. Entra num mundo aparte, e será atendido por um dos dois funcionários ou pelo neto do fundador, hoje o proprietário. O atendimento é um dos valores mais altos deste negócio, e vale a pena deixar-se levar pelas possibilidades e os conselhos. Tirar várias fotografias com vários pares de óculos e conferir as diferenças. É um toque de tecnologia que mostra que esta loja não ficou parada no tempo, não obstante ser um repositório de memórias, objectos e modelos de óculos que a moda deixou bem para trás. Até se lembrar de os ir repescar, que é o que a moda faz tão bem.
Desde 1950, que a Jomil passou seis vezes de geração em geração, não só atrás do balcão como nas gerações de clientes. É comum a genealogia de avós que aqui trazem os filhos que, por sua vez, trarão os netos. Buscam uma relação próxima, de continuidade e qualidade, que já não se encontra facilmente na velocidade do atendimento noutros lugares. Sendo possível vir sem consulta e fazer aqui a avaliação optométrica, a mais valia são as etapas seguintes. E o próprio lugar. O espaço é pequeno mas profuso de escolhas. Marcas de qualidade tanto em óculos quanto em armações, e ainda uma colecção sobrevivente dos tempos em que a loja era procurada também pelos binóculos, os termógrafos, os barómetros e outros aparelhos de precisão. Por curiosidade, vale a pena conferir a colecção de “limpa-olhos”, delicados cálices que eram usados para lavar os olhos com água de rosas; e notar o letreiro onde ainda se lê “MICROSCOPIA – OFTALMOLOGIA – PROJECÇÃO”, das quais hoje só sobrevive uma. A primeira referia-se à venda de lentes e microscópios e a outra estava mesmo ligada ao cinema, quando ainda era aqui que se podia encontrar um projector. Já nada disso se encontra hoje para venda, mas em compensação temos artigos únicos como uns óculos baseados num desenho de Le Corbusier – os corbs – e que não se encontram em mais lado nenhum.