Café

A Brasileira

A Brasileira

Contactos

Telefone:

(+351) 21 346 9541

Morada:

Rua Garrett 120/122
1200-205 Lisboa

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Horários:

Todos os dias

08:00 – 02:00

A Loja

A história d’A Brasileira traz com ela muitas Brazileiras, com zê. Lugares que abriram por todo o país, tentaram Espanha, sempre na iniciativa de se tornarem escolas onde aprender a gostar de café, numa altura em que esta bebida ainda era entre nós totalmente desprestigiada. Todo esse esforço deve-se em grande medida a Adriano Telles, que aos 12 anos deixou Alvarenga, no norte, rumo ao Brasil. Foi lá que enriqueceu com o negócio do café. Quando voltou a Portugal, com mulher e filhos, encetou uma série de esforços para dar a conhecer esta bebida entre nós. Convidava os amigos e servia-lhes café coado, e criou até um jornal gratuito, que se intitulava A Brazileira, e tinha como subtítulo Orgão de Propaganda da Casa Especial de Café do Brazil. A primeira Brazileira a inaugurar foi no Porto, na Rua Sá da Bandeira, em sociedade com outros dois proprietários. Dois anos mais tarde, em 1905, foi a vez da de Lisboa, num local onde até então funcionava uma camisaria. Nos dois anos entre a abertura da do Porto e da de Lisboa, houve ainda uma incursão por Espanha. Curiosamente, os espanhóis não apreciaram a bebida de “malo gusto, malo odor”[1]. 


Abriu-se uma Brazileira em Sevilha, e outra em Braga. Em Lisboa chegaram a existir duas: a do Chiado e a do Rossio. Mas, volvido um século, é a do Chiado a que sobrevive, perdendo nalgum momento o seu “zê”, abrindo escadarias e copas e remodelando o espaço uma e outra vez, sentando o Pessoa em bronze à sua porta sob todas as intempéries e bombardeamentos de flashes turísticos; mas afinal de contas, tudo somado, granjeando o seu posto de destaque entre os locais mais emblemáticos do Chiado. Algumas dessas remodelações tiveram a mão do arquiteto Norte Júnior, cuja obra inclui diversas Lojas Com História, com realce para todo o projecto das avenidas novas, o projecto d’A Brasileira do Chiado, ou a fachada das Joalharias do Carmo ou Ferreira Marques, entre outras. A remodelação de 1908 torna o piso térreo em sala de café e surge então algo inusitado, algo que hoje não nos pode soar mais trivial: a venda de café em chávena. Era um hábito tão singular que Adriano Telles decidiu oferecer a bebida. Durante treze anos de loja, beber um café era grátis, e ainda nem sequer existia a “bica”.


A origem da expressão “bica” para designar um café está rodeada de alguma celeuma, adversando entre si várias narrativas. Sem podermos atestar a qualquer uma delas, o que parece certo é estar ligada à própria bica, isto é, ao objecto, à “torneira” pela qual jorra o líquido. Explicam-nos que na cafeteira a bebida esfriava, e que por isso algum cliente, nalgum momento, terá pedido a um empregado para ir “directo à bica” — dado que lá o café estaria quente. Pode ser, como também pode ser uma outra versão, que não é incompatível com as primeiras, pois lhes terá sucedido. Nos diferentes esforços do Sr. Telles para que os portugueses se apaixonassem por esta bebida, houve um cartaz afixado na loja que dizia “Beba Isto Com Açúcar!” (B.I.C.A.!). Enfim, seja como for, o certo é que pegou, a bica faz parte do dia a dia dos lisboetas. No Porto, em contraste, chamam-lhe cimbalino… mas isso é toda uma outra história.

Nos anos 20, a Brasileira do Chiado é já um estabelecimento afamado e lugar de tertúlias intelectuais e artísticas. O olisipógrafo Norberto de Araújo lança então no “Diário de Lisboa” um apelo para que as paredes sejam decoradas pelos quadros dos pintores modernistas que a frequentavam. Pedido do qual se virá a arrepender, pois nem ele, nem a clientela em geral, ficam satisfeitos com a ruptura e a inovação que dali saem. Foi assim que, em 1925, surgiu uma das mais fantásticas composições de pintura de vanguarda, prontamente vaiada pela crítica da época. Duas pinturas quadros de Almada Negreiros, na mesma galeria com trabalhos de Eduardo Viana, Jorge Barradas, António Soares, Stuart Carvalhaes, José Pacheko, e de Bernardo Marques. Só com os anos e a mudança de mentalidades é que ganharam o valor que hoje se lhes atribui e só foram substituídos nos anos 70 por uma nova selecção, de uma nova geração. Esta renovação coincide com uma nova série de remodelações, e depois novamente nos anos 90, sob a égide da “Lisboa Capital da Cultura”. Em 88 sentam o Pessoa em bronze na esplanada, uma escultura de Lagoa Henriques, que talvez não tenha imaginado que aquela sua peça se tornaria no pedaço de bronze mais intensamente fotografado de todo o país e arredores. Isso deve-se em parte ao grande fluxo turístico da zona, que se reflecte no próprio ambiente do café, o que não significa que não haja trilhos de entrada para os locais. Até se dão tertúlias, insistentes, em prol de outros tempos. Os que vêm, recomendam o pastel de nata com a receita de um chefe premiado, as empadas de galinha e a tarte de limão com merengue. Muitos desconhecem o restaurante no piso inferior, onde o mais famoso é o bife à Brasileira, seguido do incontornável bacalhau, açorda de marisco, e a cataplana.

O quiosque à entrada ainda faz apelo a que não se perca esta tradição: o cafezinho com o jornal, aquilo que conduz ao debater das notícias, a estarmos uns com os outros, a versar o estado do mundo, a lutar contra a incompreensão, a maquinar grandes revoltas e todas as revoluções, mesmo todas aquelas que – já se sabe – nunca saem da mesa do café.

A Brasileira
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Referências & Ligações

[1] Apud ROCHA, Maria Estela Tomé da – A Brasileira do Chiado – 100 anos

Produtos
& Serviços

Café-Restaurante.

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