Restaurante Estrela da Sé

A Loja

 A forma estelar que se pode encontrar em várias escalas e em vários momentos da decoração do restaurante, inclusive no nome, é algo que o fundador, Agapito Serra Fernandes, trazia sempre associado a si, tendo dado lugar a uma colorida mitologia sobre o tema, versões várias às quais não nos vamos dedicar muito, dado que nenhuma pode ser comprovada. A alusão ao “campo de estrelas” da sua região natal, Compostela, é imediata. Mas também se diz que o apreço pela forma possa vir de um remoinho que Agapito tinha no cabelo... Há ainda quem associe o pictograma à maçonaria e às organizações de poder que frequentavam o restaurante, sobretudo graças ao recolhimento dos seus gabinetes privados. Juntamente com outra Loja Com História, o Restaurante Faz Frio, estes são os últimos lugares da cidade onde se pode ir almoçar ou jantar num gabinete privado, recantos que outrora foram comuns nos restaurantes. Neste caso, são forrados a madeira de pinho, e estiveram noutros tempos pintados de verde. 

Foi por acaso, há 50 anos, que o pai da actual empresária reparou que a madeira ficava melhor na sua cores originais, graças aos estilhaços de uma garrafa partida, quando os tentou tirar, e descascou pequenas lascas da tinta verde. Em pouco tempo descascou-a toda. Era aqui que vinham comer as pessoas que gostavam de estar junto com alguma privacidade, e os motivos para tal irão sempre ser combustível feliz para grandes voos da imaginação...

O que sabemos, isso sim, é que Agapito Fernandes veio muito novo de Pontevedra, com o irmão, e juntos começaram uma empresa que fornecia biscoitos aos militares. Só mais tarde abriram um restaurante, primeiro na Rua da Prata, que era o “Estrela d’Ouro”. A Estrela da Sé é fundada em 1857 como casa de pasto, e de geração em geração na mesma família criou um lugar bastante único nesta parte de Lisboa, com uma clientela regular, para muitos deles uma segunda casa. Conta-se que o maestro Victorino d’Almeida recebia aqui a correspondência e que Mário Soares, quando esteve preso no Aljube, pedia as suas refeições deste lugar, que lhe eram entregues em mão por uma funcionária do restaurante. Há uma ligação familiar entre os funcionários, e maior parte deles trabalham ali há décadas, o que explica em parte o ambiente caseiro e intimista que se faz sentir. Isso é uma parte importante do prazer da experiência, outra é claro, são as especialidades: morcela e chouriço assado de entrada, alheira frita ou favas guisadas; o bife à Estrela da Sé e as iscas à Portuguesa.