A Loja
Um motivo forte para ir ao Galeto, se de tal se precisar, é o incrível balcão corrido onde nos sentamos lado a lado e encaramos outro cliente, uma disposição que o torna único na cidade. Aliado a isso, será a completa carta de comida tradicional e as generosas horas em que está aberto, alimentando os noitibós de Lisboa quando mais ninguém lhes dá guarida. Desde as 7 da manhã, acompanha os lisboetas nos seus diferentes apetites: o pequeno-almoço, a refeição, um combinado, um hambúrguer em pão de brioche ou um copo. Menos conhecida é a sala de refeições no piso inferior, que também merece a visita.
O actual proprietário conta que se lembra do dia da inauguração, em 1966, tinha ele treze anos. O seu pai era um dos seis sócios que, tendo já singrado no ramo da restauração no Brasil, queria reproduzir a experiência em Portugal. O modelo que importaram centrava-se num pequeno frango de churrasco, o que em italiano se diz um galleto. Foi a comunidade italiana no Brasil que o popularizou, e foram estes seis portugueses que o trouxeram de volta à Europa.
O sucesso imediato que conheceu o Galeto reflectia o sucesso geral das Avenidas Novas nos anos 70, ou vice-versa, é difícil distinguir. A cidade modernizava-se e eram testados novas formas de projectar espaços e edifícios, e de viver os espaços públicos. Joaquim Bento d`Almeida e Victor Palla foram os arquitectos que imaginaram este espaço e outros similares – o Pique-Nique, o Noite e Dia ou o Tique-Taque – assim apresentando aos lisboetas o conceito de snack-bar. A moda pegou. No entanto, neste caso, não se trata apenas de comer ao balcão. O desenho inusual dos balcões, como um pequeno labirinto, confronta-nos com o cliente desconhecido no balcão da frente, criando uma singular atmosfera de se estar solitário em grupo. Acompanhadamente só.
É interessante pensar em que medida este tipo de soluções reflectem uma cidade que acelerava, mais produtiva e orientada aos valores que hoje regem o mundo ocidental: consumo e produção, e em que o tempo do comer se reduz e se torna o mais eficiente e informal possível. À noite, pelo contrário, a boémia rompia – e rompe sempre – com as lógicas do tempo útil, e ali uma pessoa permite-se estar várias horas a desfrutar umas pouco-produtivas mas sempre refrescantes imperiais. Ou um bom vinho, dependendo do gosto. Outra coisa interessante acerca destes novos hábitos alimentares, é que o balcão foi de facto concebido para ser uma forma cómoda de se vir comer só, ou em casal, ou com um amigo – mas que muito na realidade o Galeto serve imensas famílias, que vêm em grupo comer assim, lado a lado. Não deixa de ser estimulante: que a nossa vontade de estar junto, com tempo, de comer bem em lugares bonitos, pareça contrariar qualquer ideal de eficiência expedita que os tempos nos proponham – ou nos imponham.
Produtos
& Serviços
Restauração, pastelaria e gelataria, serviço de restaurante, snack-bar, pastelaria, gelataria e esplanada.