Pastelaria Mexicana

A Loja

Um lugar de referência no seu bairro, frequentada tanto pelo vizinho usual quanto pelo visitante saudosista, e mais raramente pelo turista curioso, a Pastelaria Mexicana é um exemplo importante de como podem as lojas tradicionais renovar-se e evitar soçobrar sobre a mão pesada do tempo.
Outrora palco de um certo sucesso, nas décadas mais felizes das Avenidas Novas, a Mexicana teve depois o seu período de declínio, pelo menos de negligência, e que pôs em perigo a sua continuidade. Foi há poucos anos que o actual proprietário, Rogério Pires, pegou nela e tentou uma resposta possível para o quebra cabeças que nos ocupa a muitos: como honrar a tradição destes espaços históricos e ainda assim modernizá-los e torná-los pertinentes às necessidades (e velocidades) actuais? 

A resposta encontrada, uma de muitas possíveis, passou por abrir o salão do fundo para refeições, repensar a identidade visual, substituir equipamentos, promover as melhores receitas. Uma visita a qualquer hora do dia diz-nos algo sobre a validade desta resposta: casa-cheia. É o jackpot de quem joga o jogo das lojas. Não só a afluência voltou, mas também a atmosfera convivial e animada, e aquela diversidade que torna os espaços urbanos interessantes: a jovem estudante sozinha com os seus apontamentos, os dois senhores a comentar o jornal, a família numerosa com as crianças a correr em volta, a conversa séria do casal do fundo, aquelas amigas com ar de estrangeiras; enfim, um pouco de tudo.

Também na oferta prima a variedade. À refeição, as especialidades são o bife e o bacalhau; mas talvez mais afamada é a confeitaria, nomeadamente os queques com frutos secos, o Garibaldi, os esquimós, ou o croissant folhado. Tudo isto com vista privilegiada para a ampla praça de nome londrino que esteve para se chamar Praça do México – daí o nome “Mexicana” – e que depois não o foi por razões diplomáticas hoje difíceis de clarificar. Por sorte o negócio não mudou também o seu nome, seria hoje “A Londrina”, no caso em que dificilmente teríamos o magnífico sol mexicano de Querubim Lapa, painel cerâmico instalado em 1962, na que é hoje a sala de refeições. Se não for por tudo o resto, só este painel vai valer a pena a visita.

Ao lado, um caricato mistério cuja ideia inicial é hoje difícil de desvendar, a que os funcionários chamam passarinheiro, uma gaiola enorme com uma árvore e com pássaros a sério, que nos dizem ter sido pensada para entreter os mais pequenos. Tudo indica que aqui fica uma história por desvendar mas, seja ela qual for, uma vista assim é algo que não vai encontrar noutra sala de refeições deste país.