A Loja
É este, entre os nossos cafés emblemáticos, aquele que nos leva mais atrás no tempo. Traz inscrito um século XVIII em que alguns luso-italianos abriam as primeiras lojas do género: o Nicola no Rossio, e este Martinho da Arcada, que ainda experimentou alguns nomes antes de se chamar assim. Quando abre, em 1782, chama-se Casa da Neve, e vende bebida e gelo. Sucedem-se gerências e denominações: Casa de Café Italiana, Café do Comércio, Café dos Jacobinos, Café da Arcada do Terreiro do Paço – até que em 1829 um novo dono, Martinho Bartolomeu Rodrigues, lhe dá o seu próprio nome. Anos depois passou a chamar-se Martinho da Arcada para o distinguir de outro homónimo que o mesmo proprietário adquirira no Largo Camões, onde hoje encontramos uma agência bancária do BPI.
O Café Martinho teve uma importância notável na vida cultural e social da altura, foi paragem obrigatório para diversos artistas e intelectuais, e relembra-nos com o seu desaparecimento o valor que tem salvaguardar aqueles que, como o Martinho da Arcada, perduraram. Isto tudo para dizer que é comum encontrar alguma confusão entre os dois Café Martinho. Ao longo de dois séculos, este Martinho - o da Arcada - deu repasto e repouso a governantes, negociantes, artistas, todo o tipo de encontros e tertúlias que aqui tiveram lugar, até se tornar segunda casa daquele que é hoje o seu inquilino mais famoso: Fernando Pessoa. Para ele continua reservada uma mesa, ex-líbris da casa e a mais requisitada, e uma série de memórias emolduradas nas paredes. Foi aqui, no Outono de 1935, que Pessoa e Almada Negreiros partilharam um último café, dias antes da morte de Pessoa.
Outras mesas reservam homenagens a outras personalidades da vida portuguesa e do seu pensar: Eduardo Lourenço, José Saramago, Júlio Pomar, Manoel de Oliveira e Ruy de Carvalho. Quando indagado acerca da ausência inexplicável de uma pensadora ou artista, o proprietário assegura que em 2017 está contemplada – finalmente – a inauguração de uma mesa dedicada a uma grande mulher. Também este atraso faz parte da história dos cafés e das tertúlias em Lisboa, as décadas que levou até deixarem o opinar feminino entrar e ter o seu lugar.
Até lá, podemos provar alguma especialidade da casa: o peixe fresco, as amêijoas, o arroz de pato, o bacalhau ou o bife “à Martinho” (molho de café com natas); acompanhados pela carta de vinhos que percorre o país. Se mais apressados, na porta adjacente – a que dá para o pequeno café à esquerda – tem boa fama o pastel de nata.
Produtos
& Serviços
Café-Restaurante.
