Chapelaria Azevedo Rua

A Loja

Sobrevivente aos tempos em que um cavalheiro não saía de casa sem o seu chapéu, e aos tempos em que a Praça D. Pedro IV era o lugar dos fazedores de chapéus, por decreto régio, a Chapelaria Azevedo Rua continua a par e passo com as novas gerações. Oferece hoje um misto eclético de modelos clássicos e contemporâneos, além da experiência de os escolher numa loja que parece uma catedral – profano que é o chapéu – com o seu mobiliário em madeira de portas envidraçadas, a encher tudo de maravilha do chão ao tecto. Nas traseiras, onde já se confeccionaram os chapéus, preserva-se o lar da chaminé por onde evacuavam os fumos e vapores resultantes da moldagem do feltro.
A história mais narrada entre estas portas é a da fuga do fundador à filoxera, em 1886, quando o desaire na colheita desse ano obrigou Manuel Aquino de Azevedo Rua a deixar os vinhos e a tentar a sua sorte na capital. Fica aqui o desafio de encontrar no espaço da loja uma garrafa em exposição de uma forma muito discreta, sabendo de antemão que é esta a história que ela conta, apesar de nada o indicar.

Muitas outras histórias povoam a loja, ou não fosse o chapéu um emblema social tão carregado de simbolismos e interpretações. Não foi há muitas décadas que ainda distinguíamos o rico do pobre, ou diferentes profissões, apenas pelo chapéu que estes indivíduos usavam. Dessa simbologia sobrevivem apenas vestígios, e muita variedade: o chapéu de festa da dama-de-honor, a nobre cartola, mais baixa ou mais alta, para o diplomata; a democrática boina, o quentinho gorro, o coco, o Panamá, o bélico capacete colonial, o juvenil boné e até chapéus de chuva. Mas não só chapéus – há as luvas e as bengalas. Caso não saiba o que é um tricórnio, pergunte aqui, que esta casa é a referência nacional na produção de chapéus de toureiro. De tal maneira que perdura a memória, talvez apócrifa, contada por José Manuel, que era o proprietário nos anos 90:
"Lembro-me do meu pai ver touradas na televisão e sempre que um tricórnio caia no chão, ele gritava: "Pisa touro, pisa!" – Dado que garantidamente o novo teria de ser encomendado à Azevedo Rua...
- "Pisa, touro, pisa!"