A Loja
Esta foi outrora uma paragem-padrão para fumadores e para todos aqueles que viam no tabaco um bom pretexto para se reunir, e conversar, trocar ideias, estar junto. Era não só paragem como também passagem, dado que o longo e estreito corredor que caracteriza a loja costumava ligar o Rossio à Rua 1º de Dezembro. Hoje está flanqueado por artigos relacionados com o tabaco, o charuto, jornais e revistas nacionais e estrangeiras. À porta, alguma confusão entre os souvenirs e a imprensa, entre os anúncios de tours e a mortalha, entre os livros de receitas tradicionais e um humidificador de charutos, denuncia as tentativas das diferentes lojas tradicionais de se manterem a par da crescente demanda turística.
Esta passagem pela qual já não se passa, é para alguns uma loja na qual já não se entra, e por ver e por deslumbrar fica o longo balcão e os armários em madeira do Brasil, a bica de água, os azulejos e as andorinhas de Rafael Bordalo Pinheiro, as pinturas nos vidros e os frescos no tecto de António Ramalho. Quem contrariar a tendência, não se esqueça de perguntar pelo singular corta-charutos, que é também uma lamparina, e ver cortar o charuto na cauda do gato. Mesmo atrás, a meio do longo corredor, esteve um dos primeiros telefones públicos da cidade, com a mais valia de ser abrigado. A invulgar instalação das andorinhas sobre o fio eléctrico seria talvez para a chamada telefónica que estava dentro se sentir lá fora. Ou seria talvez um firmamento contra a tristeza.
Como nos diz o poeta Fernando Caldeira (1842-1894):
Quando eu vou n’essa incerteza
Do flaneur, sem fim, sem rumo,
Ao acaso e de surpresa
Me assalta a minha tristeza,
Entro na Monaco e fumo.
Produtos
& Serviços
Tabaco, imprensa