A Loja
Em 1890 existia neste espaço a Farmácia Costa, e só em 1905 abre portas como Farmácia Normal. O nome tomou-o emprestado do Laboratório Normal, que ali tinha morada, criado pelo Dr. Mourato Vermelho. Este farmacêutico foi alguém que ascendeu a pulso, tinha trabalhado numa botica em Angra do Heroísmo desde os 10 anos e, quando veio para Lisboa, foi aceite na Barral. A Farmácia Barral gozava de um grande prestígio. Funcionou como uma escola, mas Mourato Vermelho ambicionava um negócio próprio, para o qual foi sempre amealhando. Os primeiros tempos de realização desse sonho, já na Farmácia Normal, provaram-se difíceis economicamente. Era necessário mais que vendas ao balcão para aguentar o negócio e o Dr. Mourato Vermelho, empreendedor, começou então a criar produtos industrializados, sendo pioneiro nas formas parentéricas, cuja administração é feita por qualquer via que não seja a oral ou intestinal, prática que não se utilizava na época.
Aqui surge um produto que teve um grande sucesso mas que hoje já não se comercializa, o Dynamol, que era um tónico-estimulante. Vendeu-se muito, o que ajudou o projecto geral. Mais tarde desenvolveu-se também nestes laboratórios o Aseptal, uma composição de cetrimida e clorohexidina indicada para a higiene íntima. Este produto tem por detrás algumas camadas de história dignas de ir um dia desenterrar à arqueologia dos arquivos e do Museu da Farmácia, onde dizem haver dados concretos sobre esta curiosa história. Certas versões falam de uma advogada que tinha na sua carteira de clientes alguns membros da população mais desfavorecidos economicamente, e prostitutas; outras contam a mesma história mas atribuem o pedido à Dra Adelaide Jacobetti, uma das primeiras mulheres a formar-se em Medicina em todo o país. Uma delas terá sugerido ao Dr. Mourato Vermelho um produto que salvaguardasse a higiene íntima das suas clientes, já que não havia no mercado qualquer produto específico, de poder antisséptico e inibitório, ao qual o Farmacêutico juntou ainda um aroma. Por isso a publicidade ao Aseptal, a da época, o descreve como “antisséptico-perfume”. Talvez assim fosse mais fácil quebrar alguns tabus.
Ao longo do seu século de existência o espaço já sofreu remodelações, até porque a sensação ao entrar é a de uma farmácia moderna.
É um olhar mais atento que nos permite desfrutar dos vestígios da farmácia mais antiga e, sobretudo, da forma como se faziam os manipulados, com uma série de frascos e utensílios que hoje adquirem um carácter de espólio, encantatórios. Do espólio fazem parte, por exemplo, livros antigos com fórmulas e receitas manuscritas, e cadernos de apontamentos vários, relacionados com a actividade da farmácia. Uma curiosidade: no documento ou título de registo de nome do estabelecimento, datado de 1896, é possível encontrar o carimbo da República Portuguesa sobreposto ao símbolo da monarquia... os vários tempos das várias Lojas Com História sobrepõem-se, justapõem-se, acumulam-se, guardam-se em gavetas, expõem-se na montra – o importante é que não se percam.
Outros destes utensílios, pedaços do espólio, estão em montra logo à esquerda de quem entra, e outra boa parte está guardada nos bastidores de serviço, onde o cliente não vai. O cliente, caso necessite, pode passar para uma sala de consulta que há ao lado, sendo que o espaço de atendimento é no fundo um dos vários espaços da farmácia. Neste espaço, atente nos tectos trabalhados em estuque e nos armários de madeira, os mesmos do projecto inicial; apenas as portas de vidro foram retiradas para facilitar o acesso aos produtos.
Produtos
& Serviços
Medicamentos e outros produtos farmacêuticos.