Casa Havaneza

A Loja

A sugestão geográfica diz tudo: Havana. O projecto de ter um puro cubano em pleno Chiado foi uma ideia original de dois belgas, François Caen e Charles de Vendin. Abriram a loja em data imprecisa. Hoje, a nova gerência associa o seu primeiro ano à chegada de Henry Burnay - o mesmo do banco Burnay. Isso foi em 1864, no mesmo ano em que inaugurou a linha férrea de Lisboa ao Porto – só para nos situarmos minimamente neste outro país que era então Portugal. Ainda faltavam, por exemplo, quarenta anos para a Brasileira abrir portas mesmo ao lado. Era o Chiado de uma elite, o Chiado chique, e também o Chiado dos intelectuais e artistas. Era o Chiado de Eça de Queirós, d’Os Maias:
“Um lindo Sol dourava o lajedo; batedores de chapéu à faia fustigavam as pilecas; três varinas, de canastra à cabeça, meneavam os quadris, fortes e ágeis na plena luz. A uma esquina, vadios em farrapos fumavam; e na esquina defronte, na Havanesa, fumavam também outros vadios, de sobrecasaca, politicando.”

Hoje já não se “politíca” na esquina da Havaneza, feliz ou infelizmente, mas a passagem ainda atrai um certo público - amantes do charuto e do tabaco - que aqui vem à procura de um atendimento sabedor e informado sobre o artigo. Aqui encontram também habanos premium, mini cubanos, e outras marcas emblemáticas como dos charutos Cohiba, Montecristo, Romeo y Julieta, Mokambo ou Villiger, cigarrilhas, e cigarros fleur de Savane; e claro, todo o tipo de acessórios necessários ao ritual de fumar; mortalhas, isqueiros e cachimbos.
Se a sua compra for um presente, não se distraia na altura de o embrulhar. O fazer do laço é algo levado com extremado rigor nesta Casa, e uma espécie de iniciação para funcionários novos. A segurança posta na sucessão de gestos denota a mestria de muitíssimos laços anteriores. Enquanto lhe dá os toques finais, a lojista confessa:
- “Os estrangeiros ficam maravilhados com isto...”
Ao que nós acrescentamos:
- “Não são só os estrangeiros...”